Chiquinho Viana lamenta problemas sociais e tratamento dado ao futebol de Roraima

Alguns clubes vêm acumulando títulos e formando hegemonias no futebol de base de seus estados. Mas é difícil encontrar uma equipe com tamanha soberania como tem o São Raimundo em Roraima. O Alviceleste não perde um jogo na categoria sub-20 há quase sete anos, mas precisa lidar com as dificuldades financeiras e geográficas.

São Raimundo lidera com folga o Ranking DaBase em Roraima. Foto: Divulgação/ São Raimundo

Desamparado por CBF e federação, a base do São Raimundo depende dos resultados do time profissional para se manter. Mesmo assim, consegue desenvolver um trabalho desde as categorias menores até a equipe principal . É o que conta Chiquinho Viana, técnico do time profissional e supervisor do trabalho feito na base.

Em entrevista exclusiva ao DaBase.com.br, o treinador lamentou as dificuldades vividas no estado. “Dependemos dos recursos gerados pelo time profissional. A única ajuda que temos é de patrocínio. Já tentamos  ajuda do Governo Federal através de projetos, mas não conseguimos. Então o clube tem que arcar com tudo”, comentou.

As dificuldades são um reflexo do futebol em Roraima e no Norte do país. A Federação Roraimense organizou, nos últimos anos, apenas uma edição dos estaduais sub-15 e sub-17, mantendo anualmente apenas o sub-20. Sem competições regionais, Chiquinho conta que por vezes o próprio clube organiza torneios em seu CT para criar competição para os atletas.

“Nosso processo é contínuo. Poderíamos ter mais competições. Às vezes, nós mesmos fazemos campeonatos em nosso CT para nos integrarmos às escolinhas e outros times. A própria federação não tem um diretor de base, alguém que possamos cobrar”, lamentou.

A situação não passa só pelo estado. O treinador acredita que a CBF discrimina as equipes do Norte, destinando recursos e eventos somente ao Sul e Sudeste do país.

“Precisamos descentralizar. Não nos incluem nas competições. Se não é viável financeiramente, que façam competições destinadas ao futebol do Norte. No país, tem campeonatos o tempo todo, mas aqui não. Isso é uma forma de discriminar o estado. É mais fácil nós participarmos de competições na Venezuela do que no Brasil. Alguns estados já receberam dois eventos CBF Social. Aqui não tivemos nenhum. Precisamos muito disso”, disse..

“Eles não dão nenhuma ajuda para as categorias de base. Acho que a CBF tem que ajudar, ter essa noção e buscar alternativas. Não é porque estamos no Norte que estamos isolados. Só se sabe notícias de Roraima por causa de problemas, escândalos políticos. Nos sentimos, às vezes, mais venezuelanos do que brasileiros”, acrescentou o treinador.

Além desses problemas, o São Raimundo enfrenta inimigos fora do futebol. Chiquinho relata que a cidade de Boa Vista sofre com a presença de facções criminosas que, no ano passado, levaram dois atletas do sub-17 à morte. Por isso, o clube tem a intenção de trabalhar com as camadas mais carentes da população.

“Perdemos dois atletas por homicídio aqui no sub-17 ano passado. Foi a primeira vez que eu vi meu assistente, o Beto Vieira, chorar. Você perde um investimento que fez para o crime. Esse fator social pesa muito, tentamos ajudar de alguma forma, mas é uma luta constante. Nosso CT fica em um bairro periférico, com uma comunidade carente muito grande. A gente atende lá e isso nos favorece muito”, ressaltou.

São Raimundo é presença constante na Copa São Paulo. Foto: Divulgação/ São Raimundo

Melhor base de Roraima

O São Raimundo é dono da melhor base de Roraima e a quinta melhor do Norte. Os sete anos sem derrota na categoria sub-20 acompanham oito títulos consecutivos no estadual. Em 2019, o time também venceu os torneios sub-15 e sub-17. Os resultados, segundo Chiquinho, são colhidos em revelações e reforços para o time profissional.

“Trabalhamos no intuito de formar jogadores para suprir o profissional e saírem do estado. Temos algumas revelações fora de Roraima, como o Gabriel e o Luquinhas na Ferroviária-SP, o Felipinho e o Rafinha foram para o União Inhumas-GO e devem seguir para Portugal. Tínhamos também  o Kaio Cristian no Boa Esporte-MG. Em 2014, fomos campeões estaduais com 11 dos 25 jogadores formados aqui”, valorizou.

“Com nosso bom momento, ganhamos um ‘Know How’ muito grande, a população nos procura querendo saber quando vamos regressar, como fazem para participar das nossas escolinhas. Nossa participação nas últimas Copinhas também nos deu essa qualificação”, completou o treinador.

O Alviceleste trabalha com garotos de 5 a 20 anos em sua base, oferecendo a estrutura de seu CT para os treinamentos. Os times até a categoria sub-15 trabalham duas vezes por semana no horário oposto às aulas, enquanto as categorias maiores treinam diariamente.

“Damos uma ênfase maior à equipe sub-20 na preparação para a Copa São Paulo e outros torneios. Eu supervisiono os trabalhos da comissão técnica para fazer essa transição qualificada. Na preparação para competições nacionais, agregamos meninos do interior, oferecemos alojamento, alimentação. E os jovens de Boa Vista que se juntam ao clube precisam apresentar as notas obtidas na escola, presença, para que possamos acompanhar, orientar o processo”, explicou.

São Raimundo trabalha categorias de base desde o sub-7. Foto: Divulgação/ São Raimundo

Chiquinho ainda revela que o São Raimundo está próximo de fechar uma parceria com  a escolinha de futsal Tiradentes, da Polícia Miliar, para que os atletas posam desenvolver suas habilidades tanto no futebol de campo como no salão.

“Fechamos o projeto para as categorias menores, só falta o anúncio. Uniremos as duas áreas, futebol e futsal, pois o futsal pode agregar e trazer muitos valores. Vamos dar uma noção mais tática e de posicionamento. O trabalho é muito lúdico, mas inserindo o futsal, já vamos preparar os atletas para uma cobrança maior no futebol de campo”, finalizou.

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