De mascote do pai ao Flamengo, Khauan Schlickmann quer brilhar com a camisa 5 na Gávea

O lema “Craque se faz em casa” foi recuperado pelo Flamengo nos últimos anos. O potencial de formação da Gávea, ampliado no Ninho do Urubu, rendeu grandes vendas, como Reinier, Vinícius Júnior, entre outros. Com promessas surgindo desde as categoria menores, um camisa 5 pode ofuscar os goleadores e ser a nova joia rubro-negra: Khauan Schlickmann.
Schlickmann vem chamando a atenção pela qualidade técnica e tática. Foto: BH Foto

O sobrenome e os cachos não chamam mais a atenção do que o seu futebol. Aos 15 anos, o volante nascido em 2006 chegou ao clube nesta temporada após fazer sucesso no Paraná e em Santa Catarina. Campeão da Copa Rio Sub-15 e classificado às semifinais do Carioca após uma virada épica sobre o Vasco, o jovem começou sua trajetória antes mesmo de vir ao mundo.

Isso porque Schlickmann, como é conhecido, é filho de Calmon, atacante que defendeu clubes como Avaí, Fortaleza e CRB nos anos 90 e 2000. Seu início, como conta o pai, em entrevista exclusiva ao DaBase.com.br, foi no interior catarinense, nas praças e quadras da cidade de Canoinhas.

“Ele começou como a maioria dos meninos que sonham em jogar futebol, pelas quadras de futsal. Em Canoinhas, cidade de apenas 60 mil habitantes, foi onde começou a mostrar que de fato tinha talento, treinando sempre em categorias maiores. Foram poucas competições para atrair o interesse de outras equipes da região. Aos 9 anos, ele recebeu o convite da gigante equipe de futsal de Santa Catarina, o Jaraguá Futsal.”, relembrou.

A inspiração dentro de casa foi levada para a prática. Schlickmann acompanhava seu pai nos jogos e, com a aposentadoria, passou a ser treinado por ele, passando de mascote a aluno.

“Também fui atleta, e com isso ele convivia diariamente com o futebol. Era o mascote por onde passava era minha companhia, sempre chamando a atenção pelos cachos loiros e sua canhota calibrada. Com a aposentadoria, passei de atacante a goleiro do filho pelas praças da cidade que morávamos”.

Schlickmann acompanhava o pai nos jogos do CRB. Foto: Arquivo Pessoal

De Santa Catarina, o jovem se mudou para o Paraná, onde foi campeão pelo Trieste, hoje filial do Flamengo, na categoria sub-11. Observado pelo Coritiba, ele seguiu se destacando no Alviverde com prêmios individuais e grandes campanhas – como a entrada na Seleção da EFIPAN. O desempenho o levou ao Flamengo, no qual o início não foi fácil, já que ele precisou enfrentar a pausa dos treinos provocada pela pandemia.

“Não foi fácil ficar todo esse tempo parado, eu tenho a sorte de ter ao meu lado o meu pai, que treinava diariamente comigo em Curitiba, mesmo em plena pandemia. Mesmo assim, o coletivo conta muito e isso foi deixado de lado. Cheguei ao clube pós-parada, tive que passar pela adaptação e ainda ter que conquistar a confiança da comissão e mostrar o porque de o Flamengo ter ido me buscar. Vim para o clube com o intuito de erguer taças e esse será sempre meu maior objetivo”, destacou Schlickmann.

A concorrência no time titular rubro-negro não é pequena. Além de boas opções para a posição, a equipe conta com o entrosamento e competitividade que levaram ao título da Copa Rio Sub-15. No Carioca, porém, Schlickmann ganhou a camisa 5 e vem mostrando qualidade em todas as fases do jogo.

“Foi um pouco complicada, vinha de uma pandemia, parado, sem jogar e quando cheguei aqui tive meu tempo de adaptação. Não foi fácil conseguir alcançar a titularidade em meio a tantos talentos, principalmente na minha posição. Na Copa Rio, em que fomos campeões, estava no banco, entrava sempre, mas não era fácil mostrar meu potencial em tão pouco tempo. Agora mais adaptado e preparado, conquistei a confiança da comissão técnica e estou tendo uma boa sequência de jogos.”.

Talento precoce e jogador completo

A qualidade do jovem volante foi observada desde cedo. Treinando sempre com meninos mais velhos, em categorias maiores, o jogador fez uma transição surpreendentemente rápida para os gramados, onde nunca havia atuado. Após começar como meia, ele foi recuado para a posição de volante depois de uma lesão do titular, se destacando e ganhando uma nova função em campo.

Schlickmann tem vínculo com a fornecedora de material esportivo Nike e contrato de três anos na parceria entre Coritiba e Flamengo, além de ser agenciado pela empresa carioca Life Pro. Diego Correa, um de seus empresários, falou com o DaBase.com.br e c destacou as qualidades de jovem dentro e fora de campo.

“O Khauan é um jovem com um potencial incrível. Fora de campo é muito disciplinado e dedicado. Dentro de campo, reúne características que o levarão a ser um grande jogador na posição: é técnico, tem força e velocidade, exímio marcador e tem muita qualidade com a bola no pé. A família o educou muito bem! Família com ótimos valores”, elogiou.

Schlickmann fez sucesso no Coritiba antes de acertar com o Flamengo. Foto: Reprodução/ Instagram

Antes de acertar com o Flamengo, o jovem recebeu sondagens de Internacional, Fluminense e Atlético-MG. Na Gávea, a posição e a aparência renderam apelidos que lembram grandes nomes do time principal, como William Arão e David Luiz, além de Redondo e Puyol.

Em campo, o volante canhoto de 1.81m de altura mostra técnica e qualidade para marcar e jogar. De cabeça erguida, ele atua como primeiro e segundo homem de meio-campo, tem boa bola parada e arremate de média e longa distância, além de um ótimo entendimento das transições defensivas e ofensivas.

Foco, futuro no Fla e sonho alemão

Fora dos gramados, Schlickmann é visto como um garoto humilde e muito carismático. Sempre bem vestido, ele também gosta de ir à praia e ao shopping, mas seu foco principal é o futebol. Pai do garoto, Calmon destaca a determinação do jovem.

“Ele é um menino muito focado, desde pequeno sabe aonde deseja chegar. É complicado para os pais falarem de seus filhos. Para todos, os filhos são especiais, talentosos e possuem infinitos dons. Nós, por vivermos o futebol, tratamos diferente”, comentou.

“Ele já teve grandes exemplos próximos a nós, de promessas que não vingaram. Já viu meninos com talentos menores que, com foco e determinação, alcançaram voos maiores. Cremos que por ele viver tudo isso, sabe o que precisa ser feito e luta diariamente. Ele traça metas e não para até alcançá-las, talvez esse seja um dos seus diferenciais”.

Schlickmann é titular do time sub-15 rubro-negro. Foto: Reprodução/ Instagram

O exemplo da carreira dentro de casa e as orientações passadas deixam o volante rubro-negro tranquilo para fazer suas escolhas. Calmon destaca que a família não interfere nas questões profissionais, deixadas para seus empresários e o próprio atleta, que abdica, como todo jovem jogador, de boa parte da vida de uma criança e adolescente para se dedicar ao sonho.

“Não é nada fácil se privar de momentos para viver o futebol. Infância deixada de lado, adolescência colocada para escanteio. São horas dedicadas ao futebol, ao estudo e ao descanso. São poucos os momentos de lazer para um menino de apenas 15 anos. Mas nunca vimos em momento algum ele reclamar, sempre está disposto a acordar seis horas e ir para o treino”, ressaltou o pai.

Com Toni Kros como inspiração, Schlickmann quer se firmar no Flamengo, que tem a opção de compra dos direitos do jovem, ainda vinculados ao Coritiba. De olho na Nike Premier Cup, que começa neste fim de semana, ele afirma que quer brilhar no profissional e fazer história no clube carioca, mas não esconde o sonho de atuar na Europa – mais especificamente na Alemanha -, além de mirar a Seleção Brasileira.

“Meu primeiro objetivo é ir bem aqui, para que o Flamengo compre meus direitos junto ao Coritiba e me profissionalizar no clube. Chegar à equipe principal e, com isso, fazer história com o Manto Sagrado. Sonho também em jogar na Alemanha, no Bayern de Munique. Tenho descendência e minha mãe está tentando a dupla cidadania”, revelou.

“Minha geração tem muitos talentos, não é fácil chamar a atenção dos observadores da Seleção. Minha mudança de clube pode ter me colocado no final da fila. Talvez agora que estou de fato jogando com a camisa do Flamengo, eu possa ser ao menos visto e lembrado. Mas minha prioridade é ser feliz no clube, e mesmo que eu não venha a ser convocado, sou muito grato e feliz por viver o que o Flamengo me proporciona. É surreal vestir essa camisa”, concluiu o jovem.

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