Selecionados: conheça a história do meia que não gostava de futebol e virou referência na Seleção Sub-17
Nesta terça-feira (29), o Portal DaBase vai contar uma história bem diferente da do atacante Arthur. O segundo entrevistado da série “SELECIONADOS“, que fala sobre a vida dos 23 convocados para o Mundial do Chile com a Seleção Brasileira Sub-17, é Andrey Ramos do Nascimento, meio-campista do Vasco. Tímido e de poucas palavras, mas com muito talento nos pés, ele se descobriu no esporte somente depois de ingressar no futsal do Cruzmaltino. A história da joia é diferente, a começar pelo fato de ele nunca ter gostado de futebol na infância, mesmo tendo começado a jogar com cinco anos.
“Eu nunca tive realmente uma infância. Comecei muito cedo no futebol, aos cinco anos, mas não gostava. Eu gostava de fazer outras coisas. Era viciado em soltar pipa. Aconteceu que um dia eu pedi ao meu pai, do nada, para jogar futebol, então ele me colocou na escolinha Social Ramos Clube”, conta.
Início
O responsável por descobrir que o filho tinha um talento oculto foi Seu André, pai de Andrey. E como a família do jovem jogador é toda do Rio de Janeiro, ele sequer precisou sair de casa cedo para aventurar uma carreira no esporte mais disputado do país. Era tudo uma brincadeira, até que a aptidão para o negócio falou mais alto do que a vontade de brincar e não demorou para que o útil logo se tornasse agradável.
“Depois da Social, eu fui para a escolinha do Vasco, onde fui federado. Lá eu fui me destacando. Meu pai me via na escolinha, nas ruas e viu que eu jogava bola. Um certo dia, um cara da escolinha falou com ele para eu fazer um teste no futsal do Vasco e eu fui. Nas primeiras semanas, já havia passado e desde então a minha infância foi dedicada ao futebol. Quem me levou para o futebol foram os meus pais, bem cedo, mas depois que eu fui para o Vasco, a coisa mudou e eu comecei a gostar realmente”, destaca..
Andrey chegou no Vasco em 2004, aos seis anos. Passou cinco anos no futsal, evoluindo, até que, aos 11, deu mais um passo importante: chegou ao campo, direto para as categorias de base do Gigante da Colina. Era sinal que tinha que acontecer, mas nem tudo foram flores. O jovem rapidamente viu que o futebol não é somente um meio de fama, dinheiro e alegrias, começou a notar as dificuldades e, quando isso foi somado às lesões que sofreu, chegou a pensar em abandonar a carreira.
“Eu vi umas coisas que me fizeram pensar em desistir do futebol. Eu não gosto muito de falar disso porque foi um momento muito triste na minha vida, mas graças a Deus e depois à minha família, que me deu bastante força para continuar, eu superei. Já teve momentos de eu sair do treino chorando, falando que não queria mais jogar bola. Foi muito difícil. Eu sempre fui de uma família humilde e toda vez que eu ficava triste com as coisas que via, pensava em desistir, em largar tudo. As lesões prejudicam a gente, mas a minha família sempre esteve perto. Hoje não tenho mais problema, mas uma das maiores dificuldades é a concorrência, que aumenta a cada dia. Por isso que temos que ter a família como base, para não nos deixar abater. Temos que trabalhar muito para não dar espaço”, lembra.
Amizades
No entanto, o ambiente fora das quatro linhas quase sempre foi de felicidade para Andrey. Com saudosismo da época em que ria com as brincadeiras feitas pelos companheiros, ele lembra que essa mesma zoeira lhe rendeu um apelido para o resto da vida: “Cabeça”.
“Até hoje me chamam assim. Sempre existem as histórias com os moleques. Eu estudo no Vasco e sempre teve um grupo da bagunça. Na época, acho que eu era da turma. Só que os anos iam passando e a turma ia diminuindo, porque sempre tinha um que repetia de ano, mas tenho muitas saudades disso. O colégio do Vasco ajuda muito todos os atletas, porque temos que viajar sempre, então fica difícil, mas eles sempre cobram para a gente estudar. Lembro de uma vez que fomos no parque e procuraram confusão com um dos nossos amigos. Estávamos em maior número, mas mesmo assim um moleque chegou fazendo graça com a nossa cara. Depois de muito perturbar a gente, um dos nossos não aguentou e deu um soco no garoto. Achamos que não ía dar em nada porque éramos muitos, mas aí começou a aparecer gente de todo lugar para pegar a gente. Tivemos que sair correndo para todos os lados. Na hora, foi tenso, mas depois rimos muito”, conta aos risos.
Embora não diferencie o tratamento com os amigos, Andrey não reluta em falar quem são os seus “fechamentos” no Gigante da Colina. “Meus parceiros aqui no Vasco são o Alan e o Mateus (Vital) Pet, são os que tenho mais afinidade”, revela.
Hoje, o jovem garante que as aventuras de adolescente já passaram e o foco é outro. “O Andrey de antigamente era um cara que gostava de sair, até um pouco sem cabeça mesmo, mas o Vasco e a Seleção me fizeram muito bem. Eu amadureci muito. Hoje sou mais caseiro, gosto de ficar com a família. Não gosto muito de ir para as resenhas”, pontua.
A ajuda dada pelo Vasco, aliás, é um ponto muito reconhecido pelo boleiro. Além da escola, o restante da estrutura cruzmaltina encantou Andrey, que elogia o trabalho realizado nas divisões de base do clube. “O Vasco tem uma estrutura gigante. Tem o Cappres, que é um trabalho novo que ajuda muito a base. O clube é muito conhecido por revelar as promessas da base e os profissionais são muito qualificados, nos ajudam muito no dia a dia para o nosso crescimento”.
Tesouros
Andrey é o caçula de Seu André e Dona Raquel, que possuem ainda um casal de filhos: Emily e Andro. Mas se tem algo que mexe com o meio-campista além da família, é a namorada, Tainá, de quem ele não desgruda. “No futebol, em todas as categorias existem aquelas meninas que ficam em cima, que os caras chamam de ‘bagacinho’, mas graças a Deus eu encontrei uma menina diferente. Eu gosto mesmo é de ficar com a minha namorada, já estou com ela há algum tempo. Não faço o tipo garanhão, não. Tem uns 3 ou 4 lá (no Vasco) que pegam geral, mas eu sou diferente”, assegura.
Ídolo diferenciado
Parece que o jogador de 17 anos realmente foge do padrão. Além de ter começado no futebol sem gostar da modalidade, escolheu um ídolo totalmente avesso ao que estamos acostumados a ver, atualmente, no meio: Kaká, exemplo de jogador que não é visto em baladas, religioso, com hábitos peculiares, como apreciar programações culturais e literatura, além de ser um cara totalmente família.
“Dentro do esporte ele é o meu ídolo porque acho uma referência como pessoa. Como jogador, é fantástico e o meu estilo de jogo é parecido com o dele. Sou bastante técnico, chego bem forte no ataque como um homem surpresa e defendo com boa intensidade”, crava.
Sonhos
Falando dos sonhos, o Vasco sempre aparece entre eles. Andrey tem o desejo de jogar na Europa, mas como pouco se vê no futebol atual, quer antes deixar seu legado em São Januário. “Os meus maiores sonhos são fazer história no Vasco e disputar uma Copa do Mundo com a Seleção principal. Quero conquistar todos os campeonatos nacionais pelo clube e ser campeão do mundo. Depois, sonho sim em ir para a Europa. Gosto muito do Barcelona”.
Entretanto, se na base as joias estão surgindo, no time profissional o Gigante da Colina vive um momento delicado. O clube está na zona de rebaixamento da Série A do Campeonato Brasileiro. Mas, como bom filho da casa, Andrey tem fé na recuperação cruzmaltina. “É um momento difícil apenas. O Vasco é gigante e vai sair dessa situação. Eu acredito na reação porque lugar de gigante é na elite”.
Seleção Brasileira e Mundial Sub-17
O Brasil estreia no Mundial da Colômbia no próximo dia 17, contra a Coreia do Sul e, sendo agora uma das referências da equipe comandada por Carlos Amadeu, o jovem quer trazer o título para território verde e amarelo para fechar o ano com chave de ouro.
“A expectativa é sempre boa. Quero fazer um grande Mundial, quero honrar a minha pátria e espero sair de lá com o título. Vestir a camisa da Seleção é sempre uma honra para mim. Cada vez que eu vejo o meu nome na lista eu fico honrado em servir o meu país, que é o sonho de muitas pessoas e, graças a Deus, estou conseguindo realizar. Tudo o que eu consegui foi com bastante suor e luta, mas valeu a pena para hoje estar na lista do Mundial Sub-17”.