Selecionados: atacante dribla infância complicada e muda a vida da família
A terceira história que a série “SELECIONADOS” vai contar é de um meia-atacante rápido, abusado, mas acima de tudo, merecedor do sucesso conquistado até aqui. Estamos falando de Matheus Leonardo Sales Cardoso, ou simplesmente Matheuzinho, jogador do América-MG. Nascido em Belo Horizonte e criado no bairro da Mantiqueira, o baixinho de 1,65m teve uma infância difícil. Uma casa modesta, com apenas quarto, cozinha, sala e banheiro era o que abrigava ele, o pai, Silvio; a mãe, Maria Lélia; e o irmão, Carlos. Para dormir, toda a família dividia um beliche.
“Eu comecei a jogar bola em uma escolinha chamada Licuri, com seis anos. Fiquei dois anos lá e aos nove fui para o campo. Joguei no Pedra Branca e fui para uma escolinha que se chama Venda Nova. Quando eu fui para o Venda Nova, tinha que pagar mensalidade, fora a passagem. Aí, às vezes, meus pais deixavam de fazer as coisas da casa para me dar o dinheiro do treino e pagar a mensalidade. Em casa, já não era muito fácil, porque só tinha quarto, cozinha, sala e banheiro. No quarto só tinha um beliche: dormia eu e o meu irmão em cima e os meus pais embaixo. Era tenso, mas, graças a Deus, as coisas mudaram”, reconhece.
Chegada ao América-MG
Depois de um ano na escolinha Venda Nova, Matheus realizou um teste em um clube chamado Forrobol, passou e ficou dois anos na equipe, até que em um amistoso contra o América-MG, surgiu a oportunidade de mudar de vida. “Fiquei dois anos no Forrobol e fui para o América através de um amistoso que marcaram. Me saí bem, fiz um gol e dei um passe. Aí, eles pediram para eu me apresentar na outra semana”, conta.
O atacante começou no Coelho sem ganhar nada e, depois de um ano a realidade não mudou tanto, pois a ajuda de custo para o jovem de então 13 anos era apenas de 100 reais. Dinheiro pouco, mas importante para o jogador. “Ganhei isso durante um ano e depois o salário foi aumentando, até eu assinar meu primeiro contrato, em fevereiro deste ano”, revela. O contrato possibilitou o camisa 10 sair do CT, após anos morando no clube.
“O início foi tranquilo, fui recebido muito bem. Só a primeira semana que pegou um pouco. Via os meninos grandes e ficava com receio, mas fui vendo que o medo era passageiro. Aí, só fui evoluindo e ganhei a posição de titular. Hoje estou em casa, morando com o meu pai, mas vejo sempre a minha mãe. Eles estão separados desde os meus sete, para oito anos”, explica.
Separação dos pais
A separação dos pais, aliás, foi um momento chave na vida do jogador, que precisou amadurecer rápido e, para isso, se apoiou no irmão. “Foi bem difícil. Não pensava em nada porque era novo e não sabia o que estava acontecendo, mas lembro que ficava dividido, tanto pelo lado da minha mãe, quanto pelo do meu pai. Depois, eu fui aprendendo sobre o que era a separação”, pontua.
Dias melhores
Depois de organizar melhor a vida, Matheuzinho sabia que ainda estava longe do ideal, mas a rotina já não era de sofrimento, mas sim de esperança por dias melhores, dias estes que chegariam.
“Eu levantava cedo para a escola, voltava e almoçava às 13h. Pegava o ônibus e às 14h começava o treino, que terminava às 17h. Depois, eu voltava de ônibus para casa. O clube pagava a escola e, quando eu comecei a morar no CT, era a mesma coisa, só tirava o ônibus, mas melhorou muito”, garante.
Seleção Brasileira e Mundial Sub-17
Matheus atualmente vive com o pai e a madrasta, Patrícia. O atacante ganhou duas irmãs: Júlia e Sofia, que já estão com nove anos. Mas como ele mesmo pontuou, não deixa de visitar a mãe, que hoje mora com o marido, Paulo. O contrato com o América-MG vai até 2018 e, recentemente, depois de belas atuações pelo Coelho na Copa do Brasil Sub-17, o jogador teve o seu trabalho reconhecido com a convocação para o Mundial Sub-17, que será disputado no Chile entre outubro e novembro deste ano. A ambição agora é ficar na lista final para a competição, mas ele espera muito mais da carreira.
“A minha expectativa para o Mundial são as melhores, mas primeiro tem que trabalhar forte até sexta-feira (2), porque dois atletas vão ser cortados. Eu estou confiante e, se Deus quiser, vou estar no grupo. Pretendo chegar lá e mostrar o meu futebol, mas quero mais. Quero me tornar um grande jogador de futebol e chegar na Seleção principal. Quero ajudar meus pais para que eles tenham a vida que tanto sonhavam. Quero um dia jogar na Europa, no Barcelona. Tenho esse sonho. O futebol significa a minha vida, eu amo de paixão”, crava.
Objetivos
Hoje, com a carreira administrada pelos empresários e pelo pai, a preocupação é apenas jogar futebol, mas Matheuzinho não esquece por um segundo da família e se diz orgulhoso quando olha para trás.
“Sem dúvidas. Se não desse certo da primeira vez, eu faria várias outras vezes, até não aguentar mais. A minha família, meu pai, minha mãe, meus irmãos e a minha namorada são as pessoas mais importantes para mim e eu quero cuidar deles. Não tenho palavras para eles”, diz, antes de finalizar contando o que espera da vida daqui para frente.
“Quero que tudo o que eu desejar possa ser realizado e que venham várias outras conquistas daqui para frente”.
Ficha técnica
Nome completo: Matheus Leonardo Sales Cardoso
Data de nascimento: 11/02/1998;
Altura: 1,65m;
Peso: 55 kg;
Pé forte: os dois.