Pesquisadores destacam importância da saúde bucal na formação dos atletas

A formação de um atleta de futebol passa por diversos aspectos, desde os mais visíveis até os mais específicos. Uma grande carreira começa na infância, onde os cuidados com o corpo, ainda em crescimento, são essenciais para o aperfeiçoamento. Nesse sentido, a saúde bucal é peça-chave para o seu desenvolvimento.

Bárbara Capitanio alertou para cuidados ainda na infância. Foto: Juliana Capitanio e André Lopes

A busca pela performance ideal envolve treinamento, concentração, dedicação e pequenos cuidados que podem fazer muita diferença no futuro. A grande competitividade nas categorias de base obrigam os clubes a se atentarem a cada aspecto do jovem atleta, entre os quais a saúde bucal está em uma posição de destaque.

Quem explica os efeitos dos cuidados com a saúde bucal no desempenho esportivo é a professora Bárbara Capitanio. Pesquisadora em odontologia do esporte, ela falou com exclusividade ao DaBase.com.br e detalhou o assunto.

“A saúde dental pode afetar as dimensões funcionais, psicológicas e sociais do bem-estar da criança. A dor oral tem efeitos significativos nesses indivíduos, incluindo perda de sono, crescimento deficiente, problemas comportamentais e prejuízo no aprendizado. Os processos de comunicação, socialização e autoestima cruciais para o desenvolvimento também são afetados pela saúde dental precária”, disse.

Essas questões merecem uma atenção ainda maior na infância, quando o atleta está em desenvolvimento físico. Para o professor Bruno Costa, doutor em Ciência do Movimento Humano e docente da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), a maturação biológica é o processo mais importante nessa fase.

“A infância e a adolescência são os períodos onde encontramos as maiores mudanças físicas e fisiológicas individuais que irão perdurar na fase adulta e, dentre esses eventos, certamente a maturação biológica é a mais importante. Quando pensamos no atleta em formação, para o aprimoramento de seu desempenho, devemos saber que esse processo é o resultado de múltiplos fatores, que podem ser individuais ou internos, como nível de condição física, coordenação neuromuscular, capacidades e habilidades técnico-táticas, fatores morfológicos, estado de saúde e personalidade; e fatores externos, como infraestrutura, gestão pedagógica, equipamentos técnicos, clima, vestuário, alimentação, presença de público, entre outros”, comentou.

“Ao analisar os fatores individuais, observa-se que o processo de maturação exerce influência transversal sobre todos os demais. Toda esta seleção ocorre a favor dos mais talentosos e tem um momento importante entre 9 e 15 anos, quando as características fisiológicas de cada criança aparecerão e diferirão”.

No processo de crescimento e desenvolvimento físico, o atleta ganha qualidades fundamentais dentro de campo, como força, velocidade e inteligência. No entanto, essa fase também pode apresentar doenças que afetam o desempenho do jogador. Nesse sentido, a professora Bárbara aponta os principais problemas que precisam ser tratados.

“É possível estabelecer uma relação entre a condição de saúde dos dentes, do periodonto e da mucosa oral com a saúde geral do organismo e, portanto, a saúde bucal precisa ser monitorada. Dados de estudos epidemiológicos indicam que em crianças e adolescentes, o tipo de doença periodontal mais observada é a gengivite induzida por placa, que é uma forma reversível e não destrutiva deste tipo de doença. Apesar de que a prevalência de formas destrutivas de doença periodontal ser menos frequente em indivíduos jovens, quando comparado aos adultos, a gengivite ainda pode apresentar um risco potencial à saúde, além de que a falta de tratamento para esta condição favorece a evolução e a gravidade da doença na vida adulta. É na infância que inicia a percepção e a criação de conceitos sobre o autocuidado, sendo muito importante o trabalho de estímulo aos hábitos comportamentais de prevenção e promoção da saúde, objetivando a manutenção futura da saúde”, pontuou.

Além disso, a pesquisadora aponta outros traumas que podem atingir o público infanto-juvenil, afetando o bem-estar social e emocional e decorrentes do risco da própria prática esportiva.

“Outra condição presente durante essas fases iniciais do desenvolvimento humano são as maloclusões. Essa condição não tratada está associada à limitação funcional, dor e incapacidade social que afeta o bem-estar emocional e social de crianças e adolescentes. O impacto psicológico da maloclusão pode ser forte devido ao valor estético do rosto e do sorriso e as percepções ou distorções desses meios de contato social afetam negativamente a autoimagem e a autoestima. Essa percepção na qualidade de vida e na saúde bucal começa a ser entendida quando os jovens têm de 11 a 14 anos, fase em que muitos atletas participam de categorias de base e idade cronológica bastante próxima dos eventos que compreendem a maturação biológica”, analisou.

“Além dos fatores de risco já conhecidos para as doenças odontológicas, também devemos considerar os possíveis riscos da própria prática esportiva sobre a saúde bucal. Dentro desse contexto temos a ocorrências dos traumas orofaciais e as condições de susceptibilidade a infecções que podem ocorrer devido à frequência, intensidade e volume dos treinamentos realizados. Todos esses aspectos devem ser considerados para o acompanhamento e planejamento de ações em saúde bucal do atleta infantil”.

Bruno Costa explicou relações da saúde bucal com o desempenho. Foto: Arquivo Pessoal

Desse modo, a prevenção de possíveis problemas com a saúde bucal deve ser trabalhada desde o início da prática esportiva. Bárbara Capitanio destaca que os cuidados não são complexos e passam por hábitos saudáveis e confortáveis à vida de atleta.

“De modo geral, as ações preventivas em saúde bucal não envolvem atividades técnicas complexas ou onerosas, pois o hábito da higiene bucal regular, o controle da dieta cariogênica e o acesso aos serviços odontológico, além de contribuírem potencialmente para o controle das principais doenças bucais, como a cárie e as doenças periodontais, também contribuem para a redução das perdas dentárias futuras e a necessidade de reabilitações extensas”, explicou.

Por fim, o professor Bruno Costa afirma que os cuidados na seleção dos jovens são fundamentais. O trabalho precisa ser iniciado ainda n infância, quando eles atuam nas categorias menores, para evitar problemas maiores na vida adulta.

“O trabalho com o atleta infantil e a seleção de talentos exige uma especial atenção sobre todas as mudanças biológicas que ocorrem nessas fases de desenvolvimento. Devemos estar atentos para os eventos que podem de alguma forma interferir no sucesso de amadurecimento destes indivíduos e atuar para garantir que esse processo ocorra em um estado de plena saúde. Além disso, o crescimento em relação à estatura parece crucial atualmente na formação de atletas e pode ser afetado pela redução da saúde global”, concluiu.

 

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