Gerente explica mudanças na base e valoriza projeto educacional do Juventude

As dificuldades financeiras vividas por um clube de futebol costumam estourar nos elos mais fracos. E a base muitas vezes sofre com essa questão. Apesar disso, ainda é possível fazer um trabalho de formação profissional e social de atletas em alto nível, como acontece no Juventude.

Lúcio Rodrigues assumiu gerência da base do Juventude em abril de 2019. Foto: Gabriel stadiotto/EC Juventude

O tradicional clube da Serra Gaúcha passou por mudanças após o rebaixamento para a Série C, do Brasileirão no fim de 2018. Na base, um velho conhecido do clube assumiu o cargo de gerente. Lúcio Rodrigues, que havia trabalhado no clube em 2000 e 2001, trouxe a experiência de projetos no Brasil e na Itália para reorganizar a base. Ele explica que com um orçamento 70% menor, algumas alterações precisaram ser feitas.

“Fizemos uma reavaliação dos contratos profissionais e de formação. Enxugamos tudo. O alojamento passou a trabalhar com apenas 18 vagas fixas e 4 para avaliações. Criamos parâmetros para minimizar os erros ao mesmo tempo que procuramos qualificar a entrada de novos atletas. Negociamos 20 jovens com times do Brasil e da Europa, abrindo espaço para captar novos jogadores. Trouxemos um captador da cidade e dimensionamos as avaliações externas, detectando nichos na Região Sul e em São Paulo”, comentou.

Para não deixar a qualidade do trabalho cair, o Juventude investe em qualificação, como explica Lúcio. “Hoje, toda a comissão técnica tem formação na CBF Academy. Também decidimos estrategicamente que valorizaremos os professores da nossa escola, oportunizando o crescimento profissional dentro do clube. Todos os nossos técnicos atuais iniciaram na escola de futebol do Juventude, desde o sub-14 até o auxiliar técnico do profissional”, ressaltou.

Com esse processo, o clube consegue  contribuir na gestão técnica e do grupo de atletas, na metodologia utilizada para treinamentos e na formação sequencial dos jovens até a chegada ao profissional. O gerente, ao lado de sua equipe, acumula as funções de coordenação técnica e metodológica em um esforço coletivo. E isso inclui o trabalho da Escola do Juventude, inserida no Centro de Treinamento junto à base.

O projeto social atende 800 crianças de todos os bairros a um raio de 30km de Caxias do Sul, oferecendo treinos, jogos, alimentação, material, palestras, e participação nas equipes de iniciação. Com o objetivo de formar não só atletas, mas também cidadãos, Lúcio avalia que esse movimento de formação, no cenário nacional, ainda tem muito a evoluir.

“Me preocupa o fato deste mecanismo de salvaguarda dos clubes ser algo que sirva apenas para garantir direitos no Brasil. Não serve, por exemplo, para dar proteção quando um atleta passa doze anos de formação dentro do clube e de repente vai para países sem tradição apenas para registro no passaporte esportivo, Assim, o clube formador não é recompensado dignamente e tem que esperar que o Mecanismo de Solidariedade da FIFA, alguns anos depois, resolva dar ao clube uma ‘migalha’. Isso par não falar da relação com os agentes e o assédio de clubes maiores”, destacou.

Com a influência europeia e a proximidade com Argentina e Uruguai, o clube recebe no projeto um perfil de jovem típico da região, como detalha o gerente.

“Nosso celeiro aqui é muito voltado para goleiros, zagueiros e volantes altos. Raramente surgem meias talentosos, alas rápidos. Mas percebemos uma certa mutação benéfica e estamos conseguindo buscar atletas que antes só encontrávamos mais ao norte do Brasil. Também há a proximidade com o Uruguai e Argentina, que influencia neste DNA muito próprio do Rio Grande do Sul. Mas estamos buscando modificar isso para formar meias e atacantes mais rápidos e ágeis”, finalizou.

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