Abandonou os gramados cedo para se dedicar à carreira de treinador e aos 32 anos coleciona conquistas
As categorias de base de todo o país dispõem de muitos talentos, não só dentro do campo, bem como fora dele. Além da grande quantidade de jogadores que surgem, constantemente, aos quatro cantos do país, podemos observar também a revelação de muitos treinadores.
Gustavo Rodrigues, 32 anos, é um desses exemplos de jovens técnicos que têm lutado por um lugar no mundo do futebol. Ex-jogador, abandonou a carreira cedo pra se formar em Educação Física e apostar suas fichas no seu talento como treinador. Estudou, se formou e se especializou, antes de começar a carreira à beira das quatro linhas.
Em sete anos de carreira, treinou elencos de base por Minas Gerais e foi auxiliar em alguns times profissionais também. Mesmo jovem, já coleciona algumas conquistas, como acessos à primeira divisão do Campeonato Mineiro e também os “Títulos do Interior” do Estadual na base.
Atualmente, o treinador comanda o Sub-20 do Araxá, onde já conseguiu vencer o título do interior do mineiro da categoria por três vezes e fez uma campanha de destaque na Copa São Paulo de Futebol Junior deste ano
Em um bate-papo com o DaBase, Gustavo falou sobre o início da carreira, sobre o que já viveu, dá uns pitacos sobre a formação de jogadores no país, sobre seus exemplos para seguir firme como treinador e também sobre o Brasil nos Jogos Olímpicos Rio 2016.
Confira o nosso bate papo na íntegra:
DB: Gustavo, começa contando um pouco da sua história, por que você escolheu ser treinador, quais as dificuldades que enfrentou pra entrar no meio, o que você traz de aprendizado até aqui desde o início da sua carreira.
GR: Quando era mais novo tentei uma vida como atleta, fiz minha categoria de base no Guarani de Divinópolis e cheguei a me profissionalizar aqui no Araxá Esporte. O tempo foi passando e fui vendo que a carreira são seria da forma que eu esperava e então decidi parar, fazer faculdade de Educação Física na Universidade de Itaúna. Quando formei, iniciei minha carreira como treinador, primeiro nas escolinhas de futebol de Divinópolis até ter a chance em meu primeiro time.
O início da carreira é muito difícil, pois ninguém te conhece ainda, então você tem que mostrar ter conhecimento para conseguir emprego. Então sempre fui atrás de estudar, buscar conhecimento, fazer cursos, ler livros para estar pronto quando a oportunidade aparecer. Até hoje estudo muito, leio muito e vejo muitos jogos para estar sempre me atualizando.
DB: Como auxiliar técnico, você teve a oportunidade de conquistar diversos acessos. Toda essa bagagem conta bastante na hora de comandar os garotos na base? Quais as principais diferenças que você enxerga no trabalho feito com os jovens jogadores e com os profissionais?
GR: Minhas passagens como auxiliar técnico em equipes profissionais conta bastante na hora de comandar os mais jovens. Trabalhei com alguns atletas muito experientes e vendo o modo deles trabalharem, posso passar para os mais jovens. As diferenças são várias, mas a maior delas é que na base você precisa repetir muito mais vezes alguns tipos de trabalho e jogadas até eles assimilarem. Jogadores mais experientes têm mais facilidade em alguns tipos de treinamento, pois já estão acostumados a fazê-los.
DB: Muitos técnicos das categorias de base pelo país demoram de receber oportunidades em equipes profissionais. No seu entendimento, a que se deve isso?
GR: Realmente os treinadores de categorias de base demoram a receber oportunidades em equipes profissionais. Penso ser devido as próprias diretorias que não acreditam, ou as vezes não tem coragem de dar oportunidade aos treinadores.
É claro que o profissional tem que ser bom também e ter condições de trabalhar bem quando for promovido ao profissional. O meio profissional é muito diferente do mundo da base, mas cabe as diretorias confiar e apostar no treinador de base.
Eu acredito que todo treinador profissional deveria passar pelas categorias de base antes de treinar o profissional, pois seria muito importante para ele aprender a relacionar com os jovens e se preparar melhor para o futebol profissional.
DB: Você ainda é bastante jovem e tem uma carreira recente no meio do futebol. Em quem você se espelha pra continuar acreditando no seu trabalho?
GR: Existem vários treinadores para se espelhar. Eu tenho como exemplo pessoas que acompanho e que me informo sobre seu trabalho. Os principais treinadores de hoje como o Tite, que é um exemplo não só na parte tática, como também na forma que ele se relaciona com o grupo de jogadores.
Mundialmente claro que o Guardiola é o grande espelho. Sua postura, forma de comando, estudo e inovações mostra porque é o melhor treinador do mundo hoje. Além de profissionais tops, os dois jogaram futebol, estudaram e buscaram seu espaço.
DB: Nos clubes onde você passou, teve alguma situação que te fez repensar se deveria seguir mesmo a carreira de treinador?
GR: Trabalhar no interior é muito difícil, passamos por vários momentos felizes, mas também muitos momentos de dificuldade, que nos fazem repensar sobre o trabalho e prosseguir na profissão. Mas tenho que seguir trabalhando e colhendo bons resultados para um dia chegar a um clube estruturado e ter melhores condições de trabalho. É meu sonho e vou chegar lá.
DB: No início do ano, você teve uma campanha surpreendente com o sub-20 do Araxá na Copa São Paulo. A que se deve esse sucesso?
GR: Neste ano tivemos uma importante participação na Copa São Paulo, surpreendemos muita gente. Mostramos muita força, eliminamos o Atlético Mineiro na primeira fase e só perdemos para a ótima equipe do Bahia, na terceira fase.
O resultado foi premiação de muito trabalho. O grupo compreendeu a importância do torneio e abraçou o trabalho, minha forma de trabalho. O sucesso é do grupo, eu sabia do potencial deles e da minha comissão técnica. Acho que fizemos por merecer chegar onde chegamos.
DB: Alguns clubes vendem suas joias antes mesmo de terem chances no time de cima. Você concorda que essa forma de conduzir a formação dos jovens talentos atrapalha o trabalho dos treinadores?
GR: Concordo sim. A transição base para o profissional hoje no Brasil é muito mal feita. Jogadores muito novos são promovidos para o profissional muitas vezes na semana que vão ou jogar ou então já saem para jogar fora do país.
O processo da base é muito importante para a formação do atleta e da pessoa, não se pode pular tantas etapas como se pula aqui. Mas penso que o maior problema é que muitas vezes o diretor do clube só pensa em colocar o jogador em campo para vendê-lo no futuro e acabam não vendo o como isso é ruim. Formar jogadores e pessoas é muito difícil.
DB: Cada vez mais, estão surgindo cursos voltados para profissionais do futebol. Você tem procurado estudar de alguma forma?
GR: Eu sempre estou buscando melhorar. Quero muito fazer o curso da CBF, mas infelizmente a parte financeira está impedindo por enquanto, pois trabalhar no interior é outra realidade. Mas eu estou constantemente comprando livros, indo em palestras, vendo vídeos e ir aprimorando e conquistando mais conhecimento.
A Universidade do Futebol é um projeto sensacional e eu acompanho e vendo os cursos. Eu amo futebol, estou sempre vendo jogos e querendo crescer, pois só com muito conhecimento vou alcançar meus sonhos de carreira.
DB: Os Jogos Olímpicos do Rio 2016 estão na porta e o treinador da Seleção Olímpica é seu conterrâneo Rogério Micale. O que você espera dele e da seleção durante o evento? Você acha que o brasileiro pode sonhar com o inédito ouro olímpico?
GR: O Rogério é uma pessoa que eu conheço, pois já joguei muitas vezes contra, no tempo que ele estava no Atlético. Ele é um exemplo. Um profissional que sempre esteve na base, que é muito estudioso e buscou seu espaço. Sempre foi um dos melhores treinadores de base do Brasil e penso que a CBF fez uma sensacional escolha e tem tudo para colher grandes frutos. Ele merece estar onde está. Nosso país está muito bem representado. Acredito que o ouro venha sim. Temos um ótimo grupo de jogadores e uma pessoa muito capacitada no comando.
DB: Manda um recado pra galera que já vive o mundo da bola ou que ainda está buscando uma oportunidade de mostrar seus conhecimentos e seu talento.
GR: O recado que eu sempre passo para o grupo de jogadores que eu trabalho e para todas as pessoas que conheço é que você que tem um sonho, tem que ir atrás. Nada nunca é fácil e nada acontece de uma noite para a outra. Basta você acreditar no seu sonho e lutar muito para que você chegue aonde quer.
É preciso ser fiel a seu desejo. Vão existir pessoas que vão querer te desanimar, mas a confiança tem que partir de você. Você vai cair muitas vezes, mas tem que ter força para estar sempre levantando.
Desejo sucesso a todos!