Diretor Geral, Fabrício Delaix fala sobre trabalho de base do Internacional

O Internacional é dono da melhor categoria de base da Região Sul e a terceira melhor do Brasil, segundo o Ranking DaBase. Atual campeão da Copa São Paulo e revelador de vários atletas, o Celeiro de Ases conta com uma gestão profissional que possui experiências dentro e fora do futebol.

Fabrício Delaix mostra com orgulho a taça da Copa São Paulo 2020. Foto: Reprodução / Instagram

Fabrício Delaix, diretor geral da base colorada, começou a carreira longe dos gramados. Formado em jornalismo, ele se especializou na área comercial e de negócios, atuando como gestor em empresas de outros ramos. Hoje no futebol, ele conta em entrevista exclusiva ao DaBase alguns dos processos bem-sucedidos no Internacional.

DaBase: Você traçou uma carreira diferente de muitos profissionais do futebol. É formado em jornalismo e trabalhou na área comercial antes de chegar à base do Inter. Como se deu esse processo?

Fabrício Delaix: Nosso caminho de vida é sinuoso, acredito que a cada nova experiência precisamos extrair conhecimento e com elas surgem oportunidades. Como gestor de negócios e pessoas obtive bons resultados e construí relações de confiança. Para representar organizações e no caso de clubes com uma legião de pessoas apaixonadas, isso é fundamental. Passa por credibilidade e capacidade em assumir responsabilidades.

DB: Como essas experiências em outras áreas colaboram com suas funções no clube?

FD: Clubes de futebol são como empresas, porém com peculiaridades. Há uma linha tênue em cada jogo e resultado, a paixão dos torcedores, repercussão externa dos fatos. Mas é regido pela organização estratégica, administração por processos, tomada de decisão e principalmente a gestão das pessoas.

DB: Qual o método central de trabalho executado por vocês?

FD: Difícil eleger um método central. Posso dizer que nossa busca é por construir uma unidade sólida. As diversas áreas em total integração. Criamos vínculos entre os departamentos onde a informação, seja ela científica ou humana, é transmitida com agilidade e clareza.

Fabrício Delaix é o diretor geral da base colorada. Foto: Reprodução/ Instagram

DB: O Internacional vem acumulando taças na base. É o objetivo principal ou apenas consequência do trabalho?

FD: O objetivo principal é formar atletas de alto rendimento para jogar na equipe principal, que se relacionem em todos os aspectos com o meio do futebol dentro e fora de campo. Quando os níveis exigidos de parte técnica, tática, física e mental são altos as conquistas consequentemente acontecem, e esse é também um pilar importante da formação, pois dá ao atleta o espírito vencedor. No futebol, ter convicção é fundamental, suportar a pressão externa quando os resultados não acontecem e fazer a leitura correta das vitórias auxiliam na gradativa evolução. Tornamos os plantéis enxutos visando a qualidade no trabalho, adotamos uma filosofia de rejuvenescimento das equipes, acelerando o processo. No sub-20 campeão da Copa São Paulo, por exemplo, jogamos a temporada inteira com atletas dois anos abaixo da idade, alguns três. Os resultados no início não foram os que almejávamos, mas crescemos durante a temporada e chegamos muito fortes em todos os aspectos em São Paulo.

DB: Como vocês fazem para blindar os atletas de interesses externos, como empresários, clubes europeus e negócios fora de hora?

FD: Difícil na era da informação e das redes sociais deter o que vem de fora para o âmbito pessoal do jovem. Acredito que o que se deve blindar é o trabalho e potencializar o nível de informação. Para isso, adotamos um método de formação integral dos nossos atletas das categorias de base, com ciclo de palestras e atividades educativas. Nossa assessoria também dá suporte. Temos uma estrutura competitiva para trabalhar e profissionais qualificados, o atleta identifica isso.

DB: Como o clube pretende aproveitar as revelações da base na equipe profissional?

FD: Trabalhamos em total integração com o futebol profissional, a verticalização dos processos proporciona o mesmo nível de informação para todos. Temos dados de rendimento individuais, físicos e comportamentais espelhados. Formar e oportunizar o maior número de atletas, é o que conjuntamente buscamos.

DB: Qual a perspectiva para a volta dos treinos da base?

FD: Devido a este momento da pandemia e de total incerteza, é complicado prever um cenário. Estamos monitorando atletas e colaboradores. Quando interrompemos as atividades, nossos departamentos médico e de fisiologia montaram cartilhas instrutivas para realização de trabalhos em casa, como exercícios e alimentação. As comissões técnicas também têm realizado atividades por vídeo com os grupos.

Internacional conquistou Copa São Paulo em janeiro. Foto: Reprodução/ Instagram

DB: Com essa crise provocada pela pandemia, quais consequências diretas a base pode sofrer? Há o temor sobre o cancelamento de competições?

FD: Trabalhamos na formação de futebolistas que são crianças ou adolescentes e estão em constante mudança corporal e em construção de personalidade. Avaliar perda ou retrocesso vai depender muito do tempo de inatividade. Temos no cronograma para 2020 muitas competições regionais, nacionais e internacionais. Mas o calendário está totalmente comprometido, o cenário na questão de datas e deslocamento aéreo é muito restritivo. Não toquei na questão das receitas, o clube num todo também sofre com isso.

DB: Como os demais clubes brasileiros podem aprender com o Internacional? Que legado esse trabalho deixa?

FD: O Brasil tem grande tradição no futebol mundial por revelar jovens talentos. Cada clube a sua maneira, dentro da sua cultura e respeitando seu torcedor. Falando especificamente do Internacional, o legado que desejamos que fique é o de resgate da base formadora, o Celeiro de Ases. Em conjunto com a consultoria da Double Pass identificamos e evoluímos algumas questões. Gosto de salientar sempre que temos um time trabalhando para isso, dirigentes e profissionais, são muitas mãos.

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