Conheça Eugênio Júnior, técnico e presidente do Comercial, melhor maranhense no Ranking DaBase

O ranking criado em 2016 pelo DaBase veio para mostrar que há muitas agremiações no Brasil que fazem excelente trabalho nas categorias inferiores. Uma delas é o Comercial-MA, melhor clube maranhense desde a primeira divulgação da lista e sétimo do Nordeste na relação que hoje conta com 370 associações com ao menos um ponto.

Eugênio Junior conquistou muitos títulos com o Comercial (Foto: Arquivo pessoal)

Em um bate-papo com o DaBase, Eugênio Rodrigues de Oliveira Junior, o Eugênio Junior, presidente e ao mesmo tempo técnico da Águia, falou sobre o nascimento, o momento atual e o futuro da agremiação do Maranhão. Confira a conversa na íntegra:

DaBase: Como e por que surge o Comercial Esporte Clube, em 2012? E enfim, o clube é de São José de Ribamar ou de São Luís?

EUGÊNIO JUNIOR: No ano de 2010 eu entrei para trabalhar na categoria de base do Moto Club. Após dois anos surgiu o interesse de fundar meu próprio clube por conta de onde estava, imaginei que algumas coisas estavam erradas na organização e funcionamento de uma categoria de base e para consertar isso pensei que só tendo um clube meu mesmo poderia fazer a diferença, pois teria o poder da caneta, ou seja, o poder de assinar. O clube é sediado em São José de Ribamar. Em relação ao nome, Comercial veio do fato de eu viver do comércio, ou seja, ser comerciante e como aqui no Maranhão já existiu um clube chamado Comerciário resolvi chamar o clube de Comercial.

DB: Uma curiosidade é saber que o senhor acumula funções dentro da agremiação. Como lida com isso?

EJ: Depois de um tempo agente acaba acostumando. Como o futebol de base aqui do Maranhão não dispõe de muito interesse do poder público e privado em contribuir com o trabalho, acumulo várias funções para diminuir os custos financeiros.

DB: Outro dado desconhecido do grande público é que o Comercial não tem uma equipe profissional. Há esta intenção ou o pensamento é seguir somente com as categorias de base?

EJ: Deslumbramos essa possibilidade no futuro, de virarmos profissional, mas no momento estamos nos estruturando fora de campo. Com muitas dificuldades já conseguimos nosso ônibus, um terreno pra construir nosso CT e, talvez após a conclusão do nosso centro de treinamento, dependendo do valor na época para a nossa profissionalização, poderemos sim dar esse grande passo. Vejo as coisas pelo seguinte aspecto: como ser profissional sem ter uma estrutura que me garanta um trabalho de nível? Aqui no Maranhão vejo as dificuldades de clubes quase centenários que só têm o nome profissional, mas não tem nem lugar para treinar.

Eugênio Junior é presidente e técnico (Foto: Arquivo pessoal)

DB: Em oito anos de trabalho são muitas as conquistas, deixando clubes tradicionais do Estado para trás. Qual a fórmula desse sucesso? Já se pode dizer que o Comercial é o clube maranhense maior revelador de talentos e o que mais viaja para outros Estados para disputar competições de base?

EJ: Muito trabalho e dedicação, mas acho que a palavra que mais pesa nesse sucesso é a credibilidade que passamos para os atletas, pais e os demais envolvidos. Sobre ser o clube que mais viaja, creio que sim, principalmente pot conseguirmos disputar as principais competições de base do país. Agora sobre o maior clube revelador ainda estamos engatinhando, aprendendo dia a dia e quem sabe um dia poderemos assumir esse status.

DB: Já há atletas que se destacaram na base do Comercial e que hoje estão em clubes da Série A do Campeonato Brasileiro de Profissionais?

EJ: Ainda não, mas temos atleta na base do Sport e do Ceará, que estão bem encaminhados e cotados para um futuro próximo subirem ao profissional.

DB: Como dirigente, imagino que o futebol sempre fez parte da sua vida. Quando mais novo, tentou a carreira de jogador? Se sim, como foi essa experiência? Chegou a ser profissional?

EJ: Não cheguei a ser profissional, ainda na base rompi os ligamentos do joelho e após a cirurgia ganhei um peso muito excessivo fazendo com que eu desistisse de ser jogador. Ainda cheguei a fazer partidas pelo time profissional, mesmo sendo juvenil, na época pelo clube Sociedade Esportiva Tupã, já extinto.

DB: Pelo seu nome, tudo leva a crer que é filho de um desportista famoso no Maranhão. Fale um pouco sobre ele.

EJ: Verdade. Sou filho do ex-presidente do Moto Club de São Luís, Eugênio Rodrigues, que ficou conhecido como presidente que deu casa ao Moto Club. Antes o clube era chamado pelos adversários de time andarilho, time que não tinha nem onde enterrar se morresse e isso incomodava muito a meu pai. Na administração dele foi construído dois campos e uma área com escritórios e vestiários onde nos dias atuais o clube treina, conhecido como CT Pereira dos Santos, na Cidade de São José de Ribamar. Eu era novo mais e sempre acompanhei a desenvoltura dele no cargo de presidente do Moto e aprendi muito como administrar um clube, sendo um grande exemplo não só no futebol, mas um verdadeiro herói e referência na minha vida pessoal.

Eugênio Junior quer o título do Estadual Sub-17 (Foto: Arquivo pessoal)

DB: Ainda em 2020 sai o Centro de Treinamentos do Comercial EC? Qual a importância dele para a sequência da agremiação?

EJ: Infelizmente não. O orçamento que trabalhamos não permitirá concluir no momento nosso centro de treinamento, mas algumas benfeitorias que já fizemos como um campo society, caixa de areia, vestiário e o nosso refeitório, já deu uma boa guinada na nossa evolução dentro de campo. Temos a esperança nesse ano conturbado de concluir dois ou três quartos para realizarmos nossas concentrações antes dos jogos importantes.

DB: O Comercial conta com algum tipo de apoio do poder público ou privado para conseguir participar de competições regionais e nacionais? Qual custo mensal em média para manter todas as equipes?

EJ: Temos um custo bem elevado que gira entorno de oito mil por mês. Contamos com alguns patrocínios que levamos na camisa que contribuem com um percentual em torno de 40% das despesas fixas, sendo que no período das viagens conseguimos uma ajuda extra dos pais de atletas que não se negam a dar uma contribuição para o clube. O restante completo da minha renda pessoal. Estamos tentando nos credenciar para podermos receber uma ajuda através da lei de incentivo fiscal que, com certeza, facilitará o nosso dia a dia.

DB: O Comercial já foi campeão estadual sub-13, sub-15, sub-16 e sub-19. A conquista do sub-17 é o grande objetivo para 2020?

EJ: Com certeza é o nosso principal objetivo em 2020, mas não é o único. Também queremos manter a hegemonia nas categorias menores e voltar a disputar a Copa São Paulo com o sub-19. Portanto estamos trabalhando para tentar alcançar todas as metas possíveis este ano.

DB: Atualmente a CBF promove Brasileiro e Copa do Brasil das categorias sub-17 e sub-20, mas alguns clubes ainda insistem que a formação dos atletas (e do cidadão, num contexto mais amplo) é mais importante que um título conquistado. O senhor está de acordo?

EJ: Estou, pois penso que o maior objetivo de quem trabalha com a base é formar um cidadão de bem mesmo que o jovem não chegue a vingar como jogador profissional. Fazemos de tudo para o mesmo se tornar uma pessoa que siga o caminho das coisas lícitas da vida, além, claro, de dar sustentação no sonho de virar jogador.

DB: Aliás, o Comercial, por ser amador, para participar da Copa São Paulo de Futebol Júnior, ainda hoje tida por muitos do meio como a principal competição de base do Brasil, precisa formar uma parceria. Explique como se dá esse processo, por favor.

EJ: Clubes amadores pelo regulamento da Federação Paulista de Futebol não podem participar da Copa São Paulo de Futebol Júnior. No nosso caso em 2018 como fomos campeões e somos amadores tivemos de fazer uma parceria com um clube profissional daqui do Maranhão. Na época escolhemos o Babaçu Esporte Clube e aí sim conseguimos disputar a competição.

Eugênio Júnior acredita que formar cidadãos é o mais importante (Foto: Arquivo pessoal)

DB: Acompanhando de longe, percebe-se que o Estado do Maranhão, em termos de futebol de base, carece de estádios e de investimento do poder público. São muitos jogos no CT do Moto e no Campo do Isael e praticamente nada nos principais estádios maranhenses, por exemplo.Qual a situação atual dos campeonatos de base no Estado? Apesar de a Federação promover anualmente os estaduais de base, é fácil encontrar interessados em participar? É uma vontade em comum que haja aumento no número de participantes? É possível torná-lo mais extenso?

EJ: Temos um período bem longo de chuvas, que por sinal estamos passando no momento, ficando vários campos impossibilitados da prática do futebol. Portanto para termos todas as competições promovidas pela Federação Maranhense temos que fazer campeonatos curtos para dar tempo de concluir todos, até porque alguns têm datas para acabar por conta da indicação do campeão para as competições nacionais, como exemplo a própria Copa São Paulo. Sobre a utilização dos principais estádios, temos hoje apenas o Estádio Estadual do Castelão, que serve principalmente para competições dos times profissionais, deixando de lado a base, até mesmo por falta de datas. Já o Estádio Municipal Nhozinho Santos está há quatro anos interditado, com a promessa de voltar após a pandemia, e o Estádio Municipal Dário Santos, da nossa cidade de São José de Ribamar, vergonhosamente está interditado pelo Ministério Público, com possibilidade de desabamento da marquise, serviço feito pelo poder público há menos de seis anos atrás. Sobre a participação dos clubes, vemos um desinteresse dos mais tradicionais principalmente nas categorias menores. Hoje praticamente os maiores interessados em gastar para colocar a equipe numa competição de base são os clubes amadores. Esses sim fazem com que o futebol de base não acabe no Maranhão.

DB: No Ranking DaBase, o Comercial e o melhor no maranhense e o sétimo da Região Nordeste. Dá para almejar terminar 2020 mais acima?

EJ: Traçamos essa meta de assumir a sexta colocação no Ranking do Nordeste este ano. Estamos apenas há três pontos de alcançar o próximo clube no ranking.

DB: Num país desigual como o nosso, muitos meninos sonham com o estrelato através do futebol, mas poucos sabem das dificuldades que é vencer neste esporte. Manda um recado pra galera que ainda está buscando uma oportunidade de mostrar seu talento em alguma das peneiras ou escolinhas espalhadas pelo Brasil.

EJ: Nunca desistir dos seus sonhos e ter na cabeça que nada vem fácil. Hoje chega o que tem mais vontade de vencer e aprender. Sempre aproveitar as oportunidades agarrando com unhas e dentes como se fosse o ultimo prato de comida.

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