Com trajetória vitoriosa, Alexandre Seichi explica ideias de jogo com futebol ofensivo
Adotar um estilo de jogo passa pelo amplo conhecimento dos processos dentro e fora de campo. É preciso estudo, conceitos e uma metodologia que possa ser aplicada e praticada pelos atletas. O trabalho de um técnico, desse modo, começa ainda nas salas de aula. Foi de lá que saiu Alexandre Seichi, ex-técnico do Santo André e dono de uma carreira vitoriosa no futebol universitário e de base.
O treinador, que começou nas quadras e campos das faculdades, falou com exclusiva ao DaBase.com.br. Um dos autores do livro ‘Aprendemos Juntos – Conceitos do Futebol Moderno’, Alexandre Seichi explicou suas ideias de jogo, baseadas na ofensividade.
“Parto da essência do futebol brasileiro: alegria, ousadia e beleza. Gosto de um futebol para frente, de ter a bola, de pressionar o adversário na pós-perda, pois essa forma de jogar nos permite, na minha visão, estar mais próximo da vitória com um futebol vistoso. Gosto muito das ideias do Guardiola , porém tenho meus próprias ideias e acredito que no futebol não existe uma verdade absoluta ou apenas uma forma de formar ou ganhar”, disse.
Para desenvolver seus conceitos, Alexandre organiza seus treinos de forma sistêmica, integrando técnico, tático, físico e mental. “Eu acredito no analítico, acho que devemos trabalhá-lo. Porém, no início do treino (aquecimento) ou em um complemento pós-treino, pois a técnica refinada ajuda demais o individual do atleta e também a qualidade do jogo coletivo”, completou.
Além de uma definição de conceitos, é papel do treinador gerir grupos e transmitir suas ideias aos atletas. Por isso, Seichi defende a busca pelo conhecimento em diversas áreas. “Acredito que a tendência do presente e futuro é o técnico ter outras competências, como a busca por conhecimento em áreas como línguas, inteligência emocional, coaching, gestão, análise de mercado entre outras”, avaliou.
Há mais de três anos trabalhando com as categorias de base, o treinador cita alguns métodos utilizados para aplicar conceitos em grupos tão jovens.
“Adotamos um trabalho lúdico, no qual os atletas podem vivenciar o jogo. Incentivo a descoberta, com jogos de tomada de decisão e treinos que potencializam o individual, sempre diferenciando os processos de acordo com o indivíduo. Faço análises de foto e vídeo, sempre com explicações detalhadas, além de estimular a cooperação e a mentalidade vencedora. Para isso, ter a bola é um ótimo começo”
Além do desenvolvimento de atletas, Alexandre defendeu a participação dos treinadores na formação de indivíduos.
“É preciso cobrar a educação, exigir frequência e notas na escola, para que eles possam ter uma segunda opção e consequentemente sucesso em outra profissão. Também é importante dar ao atleta apoio psicológico, seja para lidar com o sucesso de uma carreira de jogador ou para uma frustração, caso não se profissionalize. E nos treinos podemos incentivar comportamentos como respeito, amor ao que faz, disciplina, cooperação, trabalho em equipe entre outros”, comentou.
Trajetória
Alexandre Seichi decidiu ser técnico de futebol quando entrou na faculdade, em 2004, logo após desistir de carreira de atleta. Motivado pelo objetivo, ele deu seus primeiros treinos para as equipes de futsal feminino das Faculdades Integradas de Santo André (FEFISA).
Com títulos no Engenharíadas, InterMed e Jogos da OAB, ele acumulou conquistas no futebol e futsal universitário e amador, onde atua até os dias de hoje. Mas a entrada no futebol de clubes veio em 2016, em uma oportunidade como analista de desempenho do Mirassol na Copa Paulista. Novato na área, Seichi conta como foram os primeiros dias na nova função.
“Minha primeira análise foi no papel, escrevi os quatro momentos do jogo. O Raul Cabral (técnico do Mirassol) gostou, mas indicou referências, materiais de apoio e programas. Criamos uma análise com fotos, vídeos, parte escrita. Isso me ajudou muito como técnico”, relembrou.
Alexandre foi auxiliar técnico do Mirassol na Copa São Paulo de 2017, quando o clube caiu nas oitavas de final. Sua primeira experiência em campo e a parceria com o técnico Ivan Baitello levaram Seichi ao São Bernardo e, posteriormente, ao Diadema no restante do ano, onde as dificuldades estruturais pesaram no trabalho. Mas, em 2018, o treinador assumiu as equipes sub-11 e sub-13 do Santo André, clube pelo qual fez campanhas de destaque.
Pelo time do ABC, Alexandre Seichi foi terceiro colocado do Paulista sub-11 em 2018 e vice-campeão da Paulista Cup, em 2019, já pelo sub-15. Foi lá que ele viveu seus momentos mais marcantes na carreira.
“Na semifinal do Paulista sub-11 contra o São Paulo, o estádio estava lotado, minha família estava lá, foi a primeira vez que ouvi o hino nacional em um jogo como esse, passou um filme na minha cabeça, tudo que fiz para chegar até lá. Depois, recebemos medalhas do prefeito, fomos muito reconhecidos na cidade”, contou.
Em 2020, o técnico assumiria a equipe sub-17 do Santo André. No entanto, com a falta de recursos e a pandemia do novo coronavírus, o clube decidiu encerrar as atividades da base e demitir os funcionários. Mas Alexandre já traça planos para o futuro.
“Me sinto preparado para um desafio em um clube grande ou em um clube-empresa, onde eu pudesse ter uma ótima estrutura e teoricamente os melhores atletas. Continuarei buscando conhecimento com cursos, estágios em clubes e troca de conhecimento com profissionais da área. Na metade do próximo ano, também estou me programando junto com a minha esposa para uma viagem à Europa e quero passar em alguns clubes e observar modelos, métodos de treinos e o dia a dia”
Com inspirações em grandes nomes do esporte como Bernardinho, Michael Jordan, Kasparov, Mike Krzyzewski e John Wooden, além de técnicos como Telê Santana, José Mourinho, Pep Guardiola e Jurgen Klopp, Alexandre vai além. Ele sonha alto e quer marcar seu nome no futebol brasileiro.
“Tenho três grandes sonhos: trabalhar em um clube grande do Brasil, na seleção brasileira e em um clube europeu. ‘Viver em riscos e triunfar sem glória’ é um lema”, concluiu.