Carlos Bertoldi lança projeto de treinamento mental voltado para peneiras e cobra responsabilização para realização dos sonhos

Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Jogar em um grande clube, ter o nome gritado pela torcida e ser reconhecido mundialmente pelo seu talento são objetivos de muitos jovens que, ainda muito novos, levam para campo seus sonhos e a pressão para alcançá-los. Carlos Bertoldi teve uma trajetória parecida.

Carlos Bertoldi produz conteúdo para suas redes sociais e ministra cursos online. Foto: Reprodução/ Youtube

O jovem de Curitiba começou a carreira nas escolinhas, se destacou no colégio e levou um não do Paraná Clube antes de chegar à base do Athletico-PR, aos 15 anos. No clube paranaense, ele foi vice-campeão brasileiro em 2004 e da Libertadores no ano seguinte, além de conquistar o Campeonato Paranaense e ser eleito a revelação do torneio.

O volante teve passagens por Sport, Náutico, Fortaleza, Seleção Brasileira Sub-20 e conquistou títulos e, Hong Kong até encontrar as primeiras dificuldades. As lesões, que apareceram aos 25 anos, fizeram Bertoldi perder confiança e levaram o jogador a se aposentar em 2015.

Foi nesse momento que o pontapé inicial do Profissão Jogador foi dado. O canal, que traz conteúdos e hábitos técnicos, conceitos, estrutura mental e emocional, é a base do trabalho do ex-jogador e treinador mental. Essa nova função começou através de sua busca pelo conhecimento, como ele conta em entrevista exclusiva ao DaBase.com.br.

“Foi no momento das dificuldades que busquei ajuda, fiz um curso de coach,  Me organizei mentalmente e a partir disso, encontrei poder pessoal para superar uma grave lesão no quadril e voltar a jogar em 2016 em Hong Kong, Logo depois de voltar a atuar como profissional, decidi compartilhar o poder da mentalidade. Então, todos os conteúdos que produzi e todos os cursos que proporciono são experiências vividas primeiro em mim, e assim, depois de ser a cobaia, repasso para os atletas aplicarem em suas vidas”, detalhou.

O projeto, que tem mais de 600 alunos e  700 mil seguidores nas redes sociais, conta com dois projetos virtuais. Um é o o Curso de Desenvolvimento Mental e Ganho de Confiança, com mais de 36 horas de vídeos exclusivos, um documentário, quatro livros de sua autoria e módulos dedicados para os atletas e seus pais; e o Peneiras, novo projeto que será lançado no fim de janeiro, voltado para testes e avaliações pensado no momento de interrupção das atividades provocada pela pandemia de COVID-19.

“Na minha opinião, 2021 será determinante na história dos jovens. O Peneiras, que será lançado no fim de janeiro, trará tudo que os jovens precisam, conteúdo técnico, tático, físico, mental, emocional, informações, conceitos e uma comunidade de jovens conectados. Eles trocarão informações sobre as peneiras, seus desempenhos, onde terão testes, e assim poderei gerenciá-los, monitorá-los e ajudá-los”.

Bertoldi retomou carreira após mais de um ano lesionado. Foto: Arquivo Pessoal

A passagem dos gramados para o mundo virtual foi concretizada neste ano, quando Bertoldi encerrou seu contrato com o Southern District e voltou ao Brasil para dar sequência aos projetos e fundar a Profissão Jogador Academy, uma escolinha que dará seus primeiros passos em Curitiba, a partir de fevereiro, com intuito de se expandir pelo país. No entanto, o ex-jogador já se preparava para o pós-carreira desde a juventude.

“Carrego a questão de passar conteúdo da minha essência, fui capitão na base, exerci liderança, busquei conhecimento, leitura, nunca usei o tempo de concentração com besteiras. Sou um amante de livros, do conhecimento bíblico, me enchi ao longo da vida para que nesse momento eu pudesse ter conteúdo de valor para passar. Se eu não tivesse, não atingiria o alvo que eu atinjo”, disse.

A visão de jogo do ex-volante também foi praticada fora das quatro linhas. Em suas observações nas experiências fora do país, Carlos Bertoldi apontou uma diferença fundamental na formação dos atletas no Brasil e no exterior: a questão social. Para ele, o jogador brasileiro carrega um grande fardo nas costas quanto entra em campo.

“No Brasil é diferente. O jovem encontra no futebol uma solução dos seus problemas financeiros, começa a carreira com uma carga e pressão muito grandes. Ele não vai só jogar bola, mas também vai ser a solução da família. Na Europa, eles jogam pela paixão, para serem felizes. No Brasil, o jovem é a solução da casa e do clube, se tornando um produto muito cedo. A mentalidade, o relacionamento, a emoção e a pressão são tóxicas. Aqui, temos bons técnicos, estruturas, mas a questão social proporciona uma pressão muito grande, faz com que muitos atletas fiquem pelo caminho”.

A reação dos jovens atletas a essas adversidades, no entanto, não é positiva me muitos casos. Bertoldi avalia que muitos jogadores não assumem as responsabilidades por suas atitudes, criando uma cultura em que a culpa é sempre do próximo.

“A formação dos atletas culturalmente no Brasil é ruim, temos crenças e estruturas mentais péssimas. Se o técnico tira o jovem do time, a primeira coisa que ele pensa é que o treinador está de sacanagem, que futebol é máfia, coisa de empresário. Temos uma cultura muito ruim de responsabilização, sempre que algo ruim acontece a culpa é dos outros, não dele. A ideia do programa é apontar o dedo para essa cultura negativa, responsabilizar os atletas, pois quanto mais ele é responsável pela sua história, mais tem capacidade de mudar, inovar e realizar seus sonhos”, comentou.

Bertoldi acredita que atletas precisam se responsabilizar pelos seus sonhos. Foto: Reprodução/ Youtube

Nesse sentido, o treinamento mental surge como um aspecto fundamental da formação dos atletas. O treinador aprendeu na prática que não basta correr, se cuidar e treinar repetidas vezes os mesmos fundamentos. É preciso ter foco e força para suportar a pressão e se tornar uma peça confiável em campo.

“Um atleta de alta condição técnica e física nem sempre é o que vence, nem sempre se destaca e chega ao profissional. Essas são importantes somente quando ele tem a capacidade de explorar isso. Se você tem uma ferrari, mas está com o freio de mão puxado, pode acelerar o quanto quiser. Um fusca um chevete ou uma kombi exercerão a função melhor. Se você tem a arma mais poderosa do mundo, os projéteis mais eficientes, mas não tem o gatilho, sua arma perde o valor”, analisou.

“O que adianta treinar para caramba, mas treinar errado? Se dedicar, mas não ter a confiança para os momentos mais importantes? Esse é o desafio do jovem, explorar seu talento nos momentos difíceis. Ser o craque na pelada da família, com os amigos, não adianta. Tem que ser o craque nas peneiras, testes, avaliações. Aí que a mentalidade, a qualidade das emoções vão determinar se ele consegue fazer isso de maneira positiva”.

No novo projeto de Bertoldi, as peneiras são o os eventos a serem desmistificados. Momento de muita pressão e concorrência, as avaliações são tratadas, por muitos jovens, como as grandes portas de entrada no mercado da bola. No entanto, a desinformação é um problema que o coach vem combatendo. Ele explica que é fundamental se conhecer e saber o que fazer nesse tipo de atividade.

“É preciso uma atitude muito incisiva, sobretudo com informação. Todos os jovens querem participar das peneiras, mas poucos sabem como elas funcionam, entendem as suas próprias características, funções, e como explorar isso. Muitos não chegam preparados, acham que concorrem com os jovens da peneira, mas eles estão concorrendo com quem já está no clube. A visão do olheiro, do treinador, é muito mais clínica, profunda do que os jovens acreditam”, explicou.

“O jovem precisa saber suas principais características, explorar seu talento com 100%, aplicar isso no momento importante, saber suas funções para que ele não chegue como volante e saia driblando todo mundo, que não é algo esperado de um jogador dessa posição”.

Bertoldi retomou carreira após mais de um ano lesionado. Foto: Arquivo Pessoal

Os desafios são grandes e a concorrência pelas vagas nos clubes de futebol é grande, mas o sonho move muitos jovens em busca desses objetivos. Acreditar, segundo Carlos Bertoldi, é uma atitude mínima para tornar o sonho realidade. Ele deixa uma mensagem final e reitera que os jovens precisam assumir a responsabilidade pelos seus sonhos.

“Já começa errado se você acha que é apenas sonho. Sonho está conjugado com a crença. Se você não acredita no sonho, forma uma equação de fracasso e frustração futura. O mínimo que temos que fazer é estruturar um sonho no qual podemos acreditar, lutar, construir pelas suas ferramentas, ser responsável por ele. Muitos jovens não acreditam nos sonhos porque não são responsáveis por eles. O jovem sonha em ser jogador, mas acredita que tem que ter empresário, esquema, algo que ele não é responsável. Só acreditamos naquilo que podemos fazer. É um grande mito, uma crença que impede o desenvolvimento dos atletas. A partir do momento em que você se responsabiliza, faz, busca, treina, desenvolve, você entra em um processo, e quando isso acontece a possibilidade de se realizar é maior. Quem não se responsabiliza, não realiza”, ressaltou.

“Um dos grandes problemas da minha vida e de outros atletas é assumir o sucesso, mas terceirizar o fracasso. Se eu venci a culpa é minha, se eu perdi a culpa é de alguém. Você tem que ser corajoso, assumir a responsabilidade pelo sucesso e pelo fracasso. Esse é o ser humano em alta performance, capaz de se transformar, sair do zero e ir em busca do que quer e deseja”, finalizou.

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