Uma reflexão sobre a gestão no futebol brasileiro – Por Alexandre Lemos

O após o fatídico “dia dos 7 a 1”, muito se discute a respeito da estagnação do futebol brasileiro. Enquanto isso, “assistimos de camarote” a dominação do futebol europeu e ascensão de alguns países antes considerados pequenas potências no futebol mundial.

O mundo da bola tem passado por mudanças ao longo do tempo. A ciência está cada vez mais ativa e inserida, desencadeando uma série de efeitos, sendo alguns deles relacionados á metodologias, ao perfil de profissional e ao perfil de atleta.   Quando falamos de Brasil, vejo uma classe emergente no cenário da bola, uma mescla de geração Y com geração Z, que se caracteriza por serem indivíduos inquietos, ambiciosos, corajosos, competitivos, arrojados e que anseiam na busca ininterrupta pela informação. Essa classe, com muito custo, tenta a inserção no futebol, mas, corriqueiramente esbarra numa gestão ortodoxa, antiquada dogmática e amadora.

É notório que o futebol brasileiro engatinha em relação às grandes potências europeias e não é objetivo desse texto discorrer sobre os vários motivos para a criação deste “abismo”. Na realidade, o objetivo aqui é provocar uma reflexão a respeito dos benefícios da ciência para o futebol. Em especial, gostaria de abordar alguns temas relacionados à gestão que, a meu ver, está totalmente ligado ao sucesso.

Muito pouco se fala em filosofia de um clube ou até em valores. O curioso é que quando falamos de qualquer empresa, seja ela de pequeno ou grande porte, a carta de valor é requisito básico de uma filosofia empresarial. Como os diretores irão gerir seus coordenadores? E os coordenadores irão gerir suas comissões? Como as comissões irão gerir seus atletas? Acredito que todas as tomadas de decisões deveriam ser baseadas e direcionadas a partir de uma política de valores. No entanto, na prática, o que ocorre são decisões individuais baseadas no conhecimento tácito e bom-senso do indivíduo.

Alexandre Lemos é técnico do sub-17 do Cruzeiro (Foto: Divulgação)
Alexandre Lemos é técnico do sub-17 do Cruzeiro (Foto: Divulgação)

E a forma de liderança? Há um interessante método de liderança utilizado em larga escala nos treinamentos de coach, denominado “liderança situacional”, que propõe a mudança de liderança a partir da situação. Com isso, o indivíduo pode ter foco no objetivo ou na relação dos liderados de acordo com a necessidade do momento.

Perfil de empregados? Alguém conhece algum clube que tenha pré-determinado qual o perfil de “colaboradores” por categoria? Quando falo de perfil, me refiro a características psicológicas, nível de conhecimento, experiência, forma de liderança, atitude e tomada de decisão perante situações de pressão. E o perfil dos atletas? Será que a avaliação visual é o ideal? Ou será que talvez fosse melhor se juntarmos esse método com dados físicos, psicológicos para balizarmos essa difícil decisão?

Outra importante consideração a ser realizada ao diagnosticar algumas deficiências do futebol é compreender o perfil dos gestores do mais alto escalão. Em grande parte, são pessoas oriundas da geração Baby Boomer e geração X. São pessoas caracterizadas por tomar decisões seguras, são econômicas por natureza devido a escassez de recursos na época e muitos não se sentem a vontade com a tecnologia, ficando obsoletos à globalização. Esse perfil justifica a falta de arrojo nas decisões e na dificuldade de mudança.

Portanto, saliento que apesar de conhecer casos de clubes com gestão totalmente inovadoras, penso que, de forma geral, precisamos de alterações e elas devem iniciar do topo da pirâmide, causando um efeito dominó até atingir sua base. Necessitamos primeiro de filosofia. Em seguida, de interação e conexão entre os departamentos, comprometimento das pessoas e, por fim, a visão não deve ser sistêmica apenas nas metodologias de treino. Ela tem que estar presente em todas as células do sistema.

Alexandre Lemos tem 30 anos e é o atual técnico do time sub-17 do Cruzeiro

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